Agosto Lilás: como a violência doméstica impacta a saúde mental das mulheres

“Agosto Lilás” é uma expressão que está relacionada à conscientização sobre a violência contra a mulher, especialmente o combate à violência doméstica. O mês de agosto é escolhido para essa campanha porque, no dia 7 de agosto, foi sancionada no Brasil a Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
A cor lilás é usada simbolicamente para representar essa causa e chamar a atenção para a importância de combater todas as formas de violência contra as mulheres. Durante o mês de agosto, diversas atividades, eventos, palestras e campanhas são organizados para conscientizar a população sobre a questão da violência de gênero, encorajar as mulheres a denunciarem situações de abuso e promover a igualdade de gênero.
Essa campanha tem como objetivo não apenas sensibilizar a sociedade, mas também pressionar por políticas públicas mais eficazes no combate à violência contra a mulher e promover uma mudança cultural que rejeite a violência de gênero em todas as suas formas.
A Origem do Agosto Lilás
A escolha do mês de agosto para essa campanha está relacionada à Lei Maria da Penha, um marco legal no Brasil que foi sancionado em 7 de agosto de 2006. Essa lei recebeu o nome de Maria da Penha Fernandes, uma mulher que se tornou símbolo de resistência após sobreviver a duas tentativas de homicídio por parte de seu marido. A legislação criou mecanismos para prevenir, punir e erradicar a violência doméstica e familiar contra a mulher.
O Significado da Cor Lilás
A cor lilás foi escolhida simbolicamente para representar a luta contra a violência de gênero. Ela carrega consigo a mensagem de respeito, dignidade, igualdade e empoderamento das mulheres. Ao adotar o lilás como cor-símbolo da campanha, a intenção é lembrar a sociedade de que é preciso eliminar qualquer forma de violência baseada no gênero e promover uma cultura de respeito mútuo.
Objetivos da Campanha
O Agosto Lilás tem como objetivo central a conscientização da população sobre a realidade da violência contra a mulher, que muitas vezes permanece silenciosa e invisível. Além disso, a campanha busca:
- Estimular a Denúncia: Encorajar mulheres a denunciarem situações de abuso, agressão e violência, buscando ajuda e proteção.
- Promover a Igualdade de Gênero: Reforçar a importância da igualdade entre homens e mulheres em todos os aspectos da vida, incluindo relações pessoais, profissionais e sociais.
- Sensibilizar a Sociedade: Conscientizar a população sobre as diversas formas de violência de gênero, incluindo o abuso psicológico, físico, sexual e patrimonial.
- Pressionar por Políticas Públicas: Exigir políticas públicas eficazes para prevenir, punir e combater a violência contra a mulher, bem como para apoiar as vítimas.
- Educação e Prevenção: Promover a educação desde cedo para que as futuras gerações compreendam a importância do respeito e da igualdade de gênero, evitando perpetuar padrões prejudiciais.
Como Participar da Campanha
Durante o mês de agosto, diversas atividades podem ser realizadas para contribuir com a campanha Agosto Lilás:
- Palestras e Workshops: Organizar eventos que abordem temas relacionados à violência de gênero, direitos das mulheres e empoderamento feminino.
- Campanhas de Conscientização: Distribuir materiais informativos, nas redes sociais e em locais públicos, para sensibilizar as pessoas sobre a importância do combate à violência contra a mulher.
- Eventos Culturais: Realizar apresentações artísticas, exposições e performances que expressem a mensagem da igualdade de gênero e da não violência.
- Compartilhamento nas Redes Sociais: Utilizar as redes sociais para compartilhar informações, histórias inspiradoras e estatísticas sobre a violência contra a mulher.
- Apoiar Instituições: Contribuir com organizações e abrigos que auxiliam mulheres vítimas de violência, seja por meio de doações ou voluntariado.
Os tipos de violência doméstica
Para falar sobre o Agosto Lilás, é preciso entender que há cinco tipos de violência doméstica e familiar que, de acordo com o Instituto Maria da Penha, são as seguintes:
Violência física
Trata-se de qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher, por exemplo:
- Estrangulamento ou sufocamento;
- Tortura;
- Ferimentos causados por armas de fogo ou queimaduras;
- Lesões com objetivos perfurantes ou cortantes;
- Espancamento;
- Apertar os braços, sacudir ou atirar objetos.
Violência psicológica
Condutas que gerem dano emocional e redução da autoestima, prejudique ou perturbem o desenvolvimento da mulher ou tenham como objetivo degradar ou controlar crenças, escolhas e comportamentos.
São consideradas atitudes de violência psicológica:
- Humilhação;
- Ameaças;
- Manipulação;
- Constrangimento;
- Isolamento;
- Perseguição insistentes;
- Vigilância;
- Chantagem;
- Insultos;
- Exploração;
- Ridicularização;
- Limitação do direito de ir e vir;
- Gaslighting.
Violência sexual
Comportamento que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada diante de ameaça, coação ou uso da força:
- Estupro;
- Impedir o uso de métodos contraceptivos;
- Forçar o aborto;
- Obrigar a fazer atos sexuais que geram desconforto ou repulsa;
- Forçar o casamento, gravidez ou prostituição por meio de manipulação, suborno, chantagem etc;
- Reduzir ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos.
Violência patrimonial
Conduta de retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, valores, direitos, bens ou recursos econômicos:
- Destruição de documentos pessoais;
- Estelionato;
- Privar de bens, valores ou recursos econômicos;
- Controlar o dinheiro da mulher;
- Não pagar pensão alimentícia;
- Gerar danos propositais aos objetos da mulher;
- Furto, extorsão ou dano.
Violência moral
Comportamento que se configura como difamação, calúnia ou injúria:
- Fazer críticas falsas;
- Expor a vida íntima;
- Acusar de traição;
- Emitir juízos morais sobre a conduta;
- Rebaixar a mulher com xingamentos sobre sua índole;
- Desvalorizar a mulher devido ao seu modo de se vestir;
- Acusar de traição.
Qual é a relação entre violência doméstica e saúde mental?
Casos de violência doméstica são graves, podendo até mesmo levar à morte da vítima, seja pelas mãos do próprio agressor ou porque ela já entrou em um quadro depressivo tão grave que decide tirar a própria vida.
Há uma relação direta entre a violência e os transtornos mentais que podem ser desencadeados e afetar drasticamente o bem-estar e a qualidade de vida da vítima.
Elas estão propensas a desenvolver diversos problemas de saúde mental, sendo os mais comuns:
Transtorno de estresse pós-traumático
É um transtorno que impacta pessoas que sofreram ou foram testemunhas de situações traumáticas.
No caso da violência doméstica, ao recordar as experiências vivenciadas com o agressor, são desencadeadas reações no corpo e na mente. Os principais sintomas costumam ser:
- Taquicardia;
- Sudorese;
- Mudanças no padrão de sono;
- Pesadelos;
- Isolamento social;
- Rejeição de atividades que lembrem a experiência traumática;
- Irritabilidade;
- Pensamentos recorrentes sobre o trauma.
Depressão
A violência doméstica impacta diretamente a autoestima da vítima. Além disso, o sentimento de culpa e a falta de convívio social até mesmo para esconder a situação de amigos e familiares, são fatores que podem desencadear a depressão.
Tristeza profunda, falta de motivação, insônia ou sono excessivo, perda de interesse por atividades prazerosas, medo, pensamentos suicidas e angústia são sintomas comuns em quem sofre com o transtorno.
Ansiedade
Medo, estresse e angústia se tornam grandes companheiros diários da mulher que sofre violência doméstica. Por isso, ela está propensa a desenvolver transtornos de ansiedade como:
- Síndrome do pânico;
- Fobias específicas;
- Ansiedade generalizada.
De acordo com cada diagnóstico, há sintomas físicos e psicológicos específicos que atingem a vítima, mas, no geral, podemos citar alguns dos mais comuns:
- Falta de ar;
- Preocupação excessiva;
- Taquicardia;
- Fala acelerada;
- Agitação;
- Tensão muscular;
- Tontura e sensação de desmaio;
- Enjoo e vômitos;
- Irritabilidade;
- Enxaquecas;
- Boca seca;
- Insônia;
- Dificuldade de concentração;
- Medo constante;
- Sensação de que algo ruim vai acontecer;
- Desequilíbrio dos pensamentos.
Quais são os recursos disponíveis para vítimas de violência doméstica?
Muitas mulheres enfrentam dificuldades para se desvencilhar do agressor e procurar ajuda. Por que isso acontece?
A 2° edição do Jusbarômetro SP – Barômetro da Justiça de São Paulo – Violência contra a Mulher, divulgada em 2021 e encomendado pela Apamagis (Associação Paulista de Magistrados), apontou as principais razões desse comportamento:
- Medo (73%);
- Vergonha de se expor (31%);
- Dependência financeira do companheiro (19%);
- Não confiam na justiça e aplicação das leis (15%);
- Acreditam ser um caso isolado que não vai se repetir (13%).
Por isso, campanhas como o Agosto Lilás são tão importantes, afinal, geram discussões e levam informações sobre o assunto a mulheres que têm medo de denunciar o agressor ou não sabem como sair dessa situação.
Para entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher basta ligar 180. O canal oferece três tipos de atendimento:
- Registros de denúncias;
- Orientações para vítimas;
- Informações sobre leis e campanhas.
Conclusão
O Agosto Lilás é mais do que uma simples campanha, é um chamado à reflexão e à ação para a erradicação da violência contra a mulher. Ao vestir a cor lilás e participar das atividades relacionadas à campanha, cada indivíduo contribui para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e livre de violência de gênero. Juntos, podemos criar um ambiente onde todas as mulheres se sintam seguras, respeitadas e empoderadas, não apenas em agosto, mas durante todo o ano.